- por Paulo Eduardo Malerba, presidente do PT de Jundiaí
Prevalece entre alguns governantes de Jundiaí a visão segundo a qual o desenvolvimento e os indicadores favoráveis da cidade são resultados dos últimos governos. Eles - estes governantes - teriam elevado Jundiaí a uma condição especial diante do resto do país. A história mostra que Jundiaí sempre teve um papel destacado e foi beneficiada pela localização e pelo processo histórico da formação sócio-econômica do Brasil. Isto não diminui o papel da cidade, pelo contrário, mostra que há séculos estamos no eixo do desenvolvimento do Estado e do país, e, de forma integrada, estamos contribuindo para ele. Poderíamos, pelo contrário, ter aproveitado melhor as oportunidades que surgiram no período recente.
Voltemos ao século XIX, quando uma das primeiras ferrovias do país, em 1867, foi construída ligando Santos à Jundiaí. Isto demonstra a posição importante e estratégica da cidade. O ciclo do café foi altamente benéfico ao Estado de São Paulo e, sem dúvidas, a Jundiaí. Grandes produções para exportação passavam e saiam do município e seguiam para o porto de Santos. O crescimento veloz de Campinas e os investimentos de grandes barões do café colocaram Jundiaí num eixo bastante interessante. De um lado a capital do Estado, de outro a segunda cidade mais pujante. Com o fim do ciclo do café, investimentos robustos na industrialização começaram a fortalecer rapidamente a maior cidade da América do Sul, São Paulo, a 60 km de Jundiaí.
O século XX também trouxe duas grandes rodovias que ligam o interior, liderado por Campinas, à capital do Estado e, naturalmente, ambas cortam Jundiaí, proporcionando ótimas condições para industrialização da cidade, que, em crescimento também se beneficiou do amplo mercado consumidor da capital. A cidade que sempre foi bem servida de matéria-prima e bom solo para agricultura - como mostram as culturas da uva e do morango - entrou na era industrial. As ações e o trabalho de seus moradores e moradoras – e outras pessoas que trabalharam na cidade -, na consolidação do parque industrial da cidade foram fundamentais para o atual crescimento de Jundiaí. Brevemente, este pequeno relato histórico mostra que a cidade não chegou onde está ao acaso, mas fruto do processo de formação histórico-econômica e social do Brasil, intimamente ligada à atividade econômica dominante nas outras esferas, como, aliás, continua.
O atual ciclo de desenvolvimento do Brasil favorece cidades como Jundiaí. Seu forte impulso industrial criado ao longo de muitas décadas, com indústrias de autopeças, plástico, logística, tecnologia, entre outras, se beneficia do momento do Brasil e amplia a arrecadação e crescimento municipal. A cidade poderia estar melhor se o poder público das últimas duas décadas soubesse utilizar o potencial da cidade e seus resultados para investimentos melhor direcionados.
A população não é grande - são 370 mil pessoas -, mas o crescimento demográfico não foi guiado pelo investimento em eixos de transporte, criaram-se gargalos inexplicáveis para o porte da cidade. Persistem quase 20 mil moradores em favelas. A cidade, apesar da riqueza, convive com problemas nos atendimentos de saúde, seja nas urgências ou nas consultas com especialistas. Além disso, os prefeitos não tiveram a capacidade política para trazer à Jundiaí uma Universidade Pública, cuja presença é justificável diante dos indicadores e seria de grande importância aos cidadãos. A cidade não assume seu papel de liderança regional para integrar políticas conjuntas, por exemplo na área de segurança.
Desse modo, diante de uma perspectiva histórica e mais ampla, pode-se notar que Jundiaí chegou ao seu atual estágio através de muitos fatores. Ainda assim, tem um potencial mal utilizado, já que tem condições de resolver diversos de seus problemas através de governos que tenham planejamento e prioridades sociais definidas.
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