- por Orlando Margarido, na CartaCapital
O que não se pode dizer de 360, nova produção internacional de Fernando Meirelles em cartaz a partir de sexta-feira 17, é que seja um projeto anacrônico, descolado de uma realidade atual.
Desta, justamente, retira a inspiração e a deseja representar. O mundo em trânsito, digamos, onde facilmente as pessoas se deslocam, mas cada vez menos aprofundam relações. Para dar conta de ambicioso tema, lança-se mão do conhecido recurso do filme coral consagrado por Robert Altman em títulos como Short Cuts. Vários personagens são localizados em diferentes situações para então se tocarem em seus destinos, e no caso aqui em cidades diferentes do mundo, Viena ou Londres, por exemplo.
Temos assim as irmãs eslovacas, a mais velha que se prostitui, a outra atraída pelo guarda-costas russo, com problemas no casamento. A crise amorosa norteia outras pontas do enredo, como a jovem brasileira (Maria Flor) que flagra a traição do companheiro (Juliano Cazarré) com uma inglesa (Rachel Weisz), esta numa relação morna com o marido (Jude Law).
A personagem de Anthony Hopkins traz a maior densidade à narrativa, como o pai em busca da filha desaparecida, mas não o suficiente para evitar a superficialidade que se instala no trato dessas pequenas histórias pessoais. O próprio Meirelles reconheceu durante o 40º Festival de Gramado, que o filme inaugurou, a frustração de trabalhar o roteiro de Peter Morgan baseado em peça de Arthur Schnitzler nesse formato coletivo, sem poder se deter num caso e explorá-lo. Como está, o filme surge banal e previsível com o risco de falar a uma escala global sem comover ninguém.
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