Após mais de 40 anos de espera, imprevistos e indefinição, os físicos do LHC anunciaram a descoberta da partícula que muito provavelmente corresponde ao bóson de Higgs, mais conhecido como a “partícula de Deus”. O anúncio partiu de Genebra, sede do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), onde uma equipe de cientistas cria condições para gerar e estudar a partícula, com o auxílio do acelerador de partículas LHC.
- por Marcelo Pellegrini, na Carta Capital
A provável descoberta do bosón de Higgs despertou o furor da comunidade científica nesta quarta-feira 4 e arrancou lágrimas do físico escocês Peter Higgs, criador da teoria que descreve as propriedades da partícula.
Sem esconder o entusiasmo, Ronald Shellard, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), descreveu a descoberta como inquestionável. “Não tenho a menor dúvida que isso é uma descoberta concreta e real. A gente estava esperando há muito tempo [pela comprovação] e não duvida disso”, disse. “É um feito muito maior do que o homem ter ido à Lua”, compara Shellard.
A euforia deve-se ao bóson de Higgs ser a peça do quebra-cabeça que falta para entender a estrutura e o funcionamento do Universo segundo a teoria do Modelo Padrão. De acordo com a teoria que pretende explicar o funcionamento de todas as forças que agem no Universo, a “partícula de Deus” é o que dá massa à matéria, ou seja, sem ela não seria possível a existência de estrelas, planetas e todas formas de vida como as conhecemos hoje.
No ano passado, o último relatório do Cern já dava pistas de que a descoberta estava muito próxima, mas a possibilidade de alarme falso era alta demais para um anúncio oficial. Agora, os cientistas já afirmam categoricamente a existência da nova partícula. No entanto, ainda não são capazes de afirmar que o que foi encontrado, de fato, corresponde ao bóson de Higgs. “Ainda temos que recolher mais dados, mas a probabilidade deste bóson ser, de fato, o bóson de Higgs é muito grande”, disse o professor do Instituto de Física da USP e pesquisador do Cern, Alexandre Suaide.
Segundo o Cern, a probabilidade da partícula detectada não ser uma nova partícula é de menos de 1 em 1,7 milhão. “Esta é uma das descobertas mais relevantes dos último 20 anos e pode ser a peça para entender o comportamento do Universo”, completa Suaide.
Participação brasileira
O Brasil não quer ficar para trás e se apressa para oficializar sua adesão ao Cern. A iniciativa surgiu ainda no começo do governo Lula, em 2010, mas as negociações ficaram estacionadas por conta da crise financeira.
Contudo, após o anúncio de terça-feira, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Raupp, rapidamente foi aos microfones anunciar o envio de um documento que dá prosseguimento às tratativas para a entrada brasileira no seleto consórcio internacional de pesquisa do Cern. Segundo o ministro, com o envio deste documento, o Brasil dá “um passo importante para ser um país protagonista das grandes descobertas científicas”.
Hoje, o Brasil já é um membro associado do Cern e pode desenvolver pesquisas no LHC. Porém, como membro associado, o País não têm direito à transferencia de tecnologia entre os institutos, assim como não participa dos processos de licitação e decisórios do órgão. “A vantagem [em ser membro oficial do Cern] é estender o benefício aos nossos cientistas e à indústria que poderá participar de licitações e processos que ocorrem no organismo”, diz Shellard.
A entrada do Brasil ainda depende da aprovação do próprio organismo e posteriormente de aprovação do Congresso Nacional. A expectativa da SBF é que no primeiro semestre de 2013 o Brasil já seja membro da entidade. “Estamos muito otimistas. A entrada no Brasil no Cern, por si só, significa um importante avanço científico para o País”, conclui Alexandre Suaide, que atualmente desenvolve o projeto Alice no Cern, buscando conhecer a composição do Universo nos primeiros instantes após o Big Bang.
Com informações da Agência Brasil
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