terça-feira, 19 de junho de 2012

O tamanho da população mundial é o vilão do meio-ambiente?

Existe, e sobre isto não há dúvidas, uma enorme desigualdade na distribuição de riquezas no globo, moldada por um processo de concentração de renda e padrões de consumo excludentes para a maioria dos países periféricos dependentes.

- por Paulo Eduardo Malerba

Durante a “Rio+20” voltaram à tona alguns argumentos segundo os quais o processo de explosão demográfica, que seria o aumento excessivo da população global num espaço de tempo relativamente curto (especialmente no século XX), poderia (ou levará) a uma não viabilidade sócio-econômica-ambiental e vai tornar-se um grave problema de ordem pública a ser resolvido pela humanidade.

Ao que parece, apesar de revisitado muitas vezes, torna-se necessário clarear seus aspectos.

Evidenciou-se que, embora tenha existido um aumento significativo da população global (partindo de 0,906 bilhões de habitantes em 1800 e alcançando aproximadamente 7 bilhões no ano 2011), isto não representa o risco que muitos alarmaram existir. Baseados na teoria Malthusiana em que o crescimento demográfico gerava um desequilíbrio entre a produção de alimentos e as necessidades desta população, com elevação da pobreza, criou-se um mito que perdura até a atualidade.

As últimas pesquisas do IBGE – CENSO 2010 e PNAD no caso brasileiro e as pesquisas da Organização das Nações Unidas (ONU) - como a The State of the World Population 2001 - apontam para uma desaceleração do crescimento de habitantes no planeta, com tendência para estabilização numérica, mesmo nas periferias em desenvolvimento ou subdesenvolvidas, caso da China, Índia, Brasil, México, etc. Este risco iminente não encontra respaldo nos últimos levantamentos. Ao passo que no século XX a população cresceu cerca de quatro vezes, o PIB mundial cresceu 40 (quarenta vezes), isto demonstra que, em termos econômicos, o atual número de habitantes existentes no planeta não é excessivo, não havendo insuficiência na produção econômica ou material.

Existe, e sobre isto não há dúvidas, uma enorme desigualdade na distribuição de riquezas no globo, moldada por um processo de concentração de renda e padrões de consumo excludentes para a maioria dos países periféricos dependentes. A aceleração da concentração de renda e do aumento da pobreza não se deve, de forma alguma, ao crescimento demográfico, mas sim ao modo de produção e acumulação econômica que permite distorções e aumento da fome e outras mazelas sociais.

Outro aspecto que merece atenção das sociedades - e é razão das conferências no Rio - refere-se à degradação do meio ambiente. Qual seria o papel do crescimento demográfico sobre este fenômeno? “É preciso pensar nos processos que conduzem a dinâmica no mundo da vida, observando-os como um processo da dinâmica do sistema industrial em transformação, pois já não é mais apenas sobre a questão dos recursos naturais que se trata. É necessário repensar os paradigmas da sociedade e rever conceitos e utopias”, afirmou o sociólogo e filósofo alemão Jürgen Habermas em 1987.

Habermas indica que o caminho para o problema ambiental tem ligação com o modo de produção econômica. É nítida a diferença do padrão de consumo entre um habitante em Nova Iorque e outro no sul de Ruanda, ou seja, torna-se clara que a questão não versa sobre um número ideal de habitantes no planeta, mas sim sobre a forma que as sociedades do século XXI estão organizadas, sob a ótica da produção capitalista e os padrões de consumo e de vida estabelecidos por este.

O grande impacto ambiental, seja na emissão de gases poluentes, consumo de água, poluição da água, efeito estufa, entre outros, ocorre essencialmente nas grandes potências econômicas: EUA, União Européia, Japão, China (recentemente), entre outros. Ou seja, em países que possuem um crescimento demográfico sob controle e uma população estabilizada ou em processo de estabilização quantitativa. Ao passo que se critica a suposta explosão demográfica e o excesso de contingente populacional na Índia, China, Indonésia e no mundo subdesenvolvido nota-se que os maiores danos sobre o ambiente são produzidos pelas nações centrais do capitalismo (e mais recentemente também a China, pelo seu regime capitalista em expansão e não pela população) e isto ocorre há mais de cinquenta anos.

“A expansão da pobreza global e a demanda urgente por justiça global estão evidentemente vinculadas a dilemas ecológicos. De modo que, visto de uma maneira adequada, a crise ecológica coloca estes problemas em primeiro plano. [Enfim], o que era – ou parecia ser – externo à vida social humana torna-se o resultado dos processos sociais (...), e [embora] a ecologia pareça dizer respeito totalmente à ‘natureza’, no fim, a natureza tem muito pouco a ver com isso. Assim, se por um lado, ascendem as principais radicalizações da vitória do modelo industrial ocidental, por outro, surge uma nova forma social. Não se trata exatamente da crise do modelo capitalista; trata-se de suas próprias vitórias impondo uma necessidade de adaptação e transformação social mais importante ainda”, afirmavam Anthony Giddens, Ulrich Beck e Scott Lash em 1997.

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