segunda-feira, 16 de julho de 2012

'On The Road' chega bem aos cinemas pelas lentes de Walter Salles

- Por: Guilherme Bryan, especial para a Rede Brasil Atual

Cena de "Na Estrada", novo filme de Walter Salles Jr 
Sempre foi considerado uma ousadia tentar adaptar o clássico da literatura beatnik, “On The Road”, de Jack Kerouac, para o cinema. E foram vários os que pensaram em se arriscar nessa causa, mas apenas o cineasta brasileiro Walter Salles Junior tentou até o fim. Foram vários anos dedicados a essa causa e o resultado chega finalmente aos cinemas brasileiros nessa sexta-feira (13), Dia Mundial do Rock.

Apesar da data de estreia da obra, a geração dos poetas beatniks, entre os quais estão Allen Ginsberg, Neal Cassidy, William Burroughs e Jack Kerouac, estava mais para o jazz e, ao som deles, buscavam uma nova maneira de viver livremente pelas estradas, dispostos a novas experiências existenciais e a lutar contra os padrões conservadores da época. As obras mais conhecidas são “O Uivo” (1956), de Allen Ginsberg; “O Almoço Nu” (1959), de William S. Burroughs; e “On The Road” (1957), de Jack Kerouac, que, geralmente, eram publicados pela City Lights Books, editora de São Francisco, pertencente a outro poeta beatnik, Lawrence Ferllinghetti.

“On The Road” mostra Sal Paradise e Dean Moriarty cruzando os Estados Unidos de carro e, no meio dessa jornada, se envolvendo com drogas, muitas garotas e, acima de tudo, buscando a liberdade, ao som do melhor jazz. O que pode parecer uma simples jornada juvenil, porém, se transforma em algo extremamente poético e libertário através do uso que Jack Kerouac faz das palavras e aí está o grande problema do filme. É simplesmente impossível pretender reproduzir algo desse tipo nas telas. Como toda grande obra literária, ela foi criada para aquele suporte e, portanto, em qualquer outro fica parecendo que faltou algo.

Mesmo assim, Walter Salles parece o cineasta mais acertado para essa jornada. Basta observar sua filmografia e perceber o quanto a estrada sempre o atraiu. “A Grande Arte” mostra um fotógrafo que viaja pelo submundo do Rio de Janeiro e pelo deserto da Bolívia em busca de criminosos. Em “Central do Brasil”, Dora e o garoto Josué se embrenham pelo sertão nordestino em busca do pai dele. E “Diários de Motocicleta” é a própria viagem do então jovem estudante de medicina Ernesto 'Che' Guevara viajando pela América do Sul, junto com o amigo, Alberto Granado.

E ele confirma na tela essa sensação. “Na Estrada” pode não empolgar num primeiro momento e, de certo modo, frustrar um pouco os fãs ardorosos de Jack Kerouac. Mas, aos poucos, a narrativa toma conta do espectador, também em função das ótimas atuações de Sam Riley, como o jovem escritor Sal Paradise (alter ego de Kerouac) e de Garrett Hedlund, como o galã do submundo Dean Moriarty (na verdade, codinome para o poeta Neal Cassidy).

Também vale a pena prestar atenção na aparição consagradora de Alice Braga, como a catadora de algodão mexicana Terry, que conquista Sal; de Viggo Mortensen, como Bull (codinome do guru William S. Burroughs); e da sempre esplendorosa Kirsten Dunst, desta vez como a amarga Camille. Mas as atenções muitas vezes ficam voltadas para Kristen Stewart, que parece ter sido tomada pela jovem e libertária Marylou, de apenas 16 anos, e surge extremamente sensual e carismática.

Portanto, “Na Estrada” provavelmente convencerá os fãs mais ardorosos do romance de Jack Kerouac, ao conseguir levar para a tela muito do espírito aventureiro da época em que o escritor empreende suas três jornadas, indo de costa a costa dos Estados Unidos e chegando até o México. E deixa quem nunca teve contato com ele com vontade de devorar as páginas do livro.

“Na vida, algumas coisas valem a pena esperar. É o caso da adaptação para o cinema do livro ‘On the road’, de Jack Kerouac. Acima de tudo, ‘Na Estrada’ honra Jack Kerouac e é fiel ao seu livro. O diretor Walter Salles disse em diversas ocasiões que seu principal objetivo era ser fiel ao livro. Sua meta era que mais pessoas lessem Kerouac. E o sucesso foi além das minhas mais altas expectativas”, declarou Jerry Cimino, considerado a maior autoridade de cultura beat e diretor do Museu Beat de São Francisco, num pressbook distribuído para a imprensa. Fonte mais balizada para emitir opinião impossível.

Ou seja, Walter Salles capta como poucos o espírito de uma época em que valia a pena percorrer longos quilômetros apenas por uma boa conversa, como comentou bem-humorado durante a coletiva de imprensa, quando também deixou claro que não adaptará outro ícone da época, “O Apanhador no Campo de Centeio”, do também norte-americano Jerome David Salinger, publicado entre 1945 e 1946.

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